O metodista calvinista galês, Thomas Charles (1755-1814), recebeu sua educação formal em Llanddowror, bem como numa academia dos dissidentes, em Carmarthen. Durante o tempo em que esteve na academia, visitou Llangeitho, onde se converteu por meio da pregação do notável Daniel Rowland (1713-1790). Estudou no Jesus College, em Oxford, de 1775 a 17778, e durante esse tempo, conheceu um grande número de evangélicos, incluindo John Newton (1725-1807) e William Romaine (1714-1795). Após sua graduação no Jesus College, tornou-se pastor auxiliar em Somerset e foi ordenado pastor na Igreja da Inglaterra, em 1780.
Dois anos antes, havia conhecido Sally Jones (1753-1814), filha de um comerciante da cidade de Bala, ao norte de Gales, por quem se apaixonou. Embora ela, a princípio, não tivesse correspondido aos seus afetos, ele persistiu em pedir sua mão em casamento, até que finalmente se casaram em 20 de agosto de 1783.
[…] As cartas de amor entre Thomas e Sally, escritas ao longo de sua vida, oferecem uma fantástica ilustração de como o casamento cristão deve ser. A honestidade sincera que Sally demonstrou para com seu futuro esposo, no início de seu relacionamento, é essencial para qualquer casamento cristão duradouro. De qualquer modo, honestidade e transparência são elementos essenciais não apenas para iniciar um relacionamento, mas também para sua continuidade e crescimento.
Essas cartas também revelam o quanto o amor está arraigado na amizade. Os cônjuges devem ser os melhores amigos um do outro.
De Thomas Charles para Sally Jones
Queen Camel, 28 de dezembro de 1779
Minha estimadíssima amiga,
Suponho que uma carta inesperada como esta, vinda de uma pessoa que nunca a tenha visto, exceto uma vez, e isso já há muito tempo, a princípio possa te causar grande espanto. No entanto, posso gabar-me pelo fato de que uma carta como esta requeira mais recomendações, embora eu te assegure que apesar do longo intervalo desde que tive o prazer de ver-te pela primeira vez, tu não tens estado ausente de meus pensamentos nem um dia sequer, desde aquele dia até agora.
As primeiras informações que tive sobre o teu caráter, as quais ouvi em Carmarthen, por alguns de teus amigos cristãos, seis anos atrás, deixaram tão boas impressões em minha mente que certamente o tempo não poderá obliterar. Imediatamente tive um desejo intenso, e uma esperança secreta, de que a boa e sábia providência de meu Pai Celestial pudesse organizar os acontecimentos posteriores de maneira que, no devido tempo, eu pudesse ver aquela pessoa preciosa de quem eu havia formado uma opinião tão favorável.
Quando o senhor Lloyd convidou-me para passar uma parte do verão com ele, em Bala, a alegria e o prazer secretos que a probabilidade de ver-te produziu em mim foram fascinantes. Não fiquei nem um pouco desapontado. O fato de poder ver o bom senso, a beleza e a modéstia sincera, juntamente com a piedade genuína que adornam tua pessoa de forma notável, acrescentou mais combustível à chama que já estava acesa, a qual continua cada vez mais intensa desde aquela época até agora. Eu teria te explicado anteriormente o conteúdo desta carta, não fossem as dificuldades (até então insuperáveis) procedentes de algumas circunstâncias, as quais apareceram no caminho e sobre as quais eu espero, num futuro próximo, deixar-te a par.
Desde que voltei para Inglaterra, tenho esperado ansiosamente (não sem motivo, conforme garantiram meus amigos) que alguma situação favorável me abra uma porta para retornar a Gales (lugar que sempre amei!), mas estou desapontado até o momento. Pensando que uma posposição mais demorada fosse apenas servir para me distrair a mente e, em certa medida, incapacitar-me para o desempenho adequado do importante ofício no qual estou envolvido, devido às constantes inquietações; tomei a decisão, a qual coloco em prática agora, de escrever-te e solicitar o favor de poder me corresponder contigo até o tempo em que aquela boa Providência, permita que tenhamos um encontro, o que de minha parte, desejo ansiosamente…
Fica segura de que nada, senão uma consideração verdadeira e uma afeição sincera por tua pessoa, poderia me induzir a escrever ou falar contigo sobre esse assunto. Tu és a única pessoa que vi (e a primeira com quem falo acerca desse assunto) com quem pensaria em gastar minha vida numa união de felicidade e por quem tenho uma afeição especial e o apreço necessário para a felicidade conjugal. Tu és a única benção temporal pela qual tenho importunado o Senhor há algum tempo.
Espero que tua decisão possa alegremente me convencer de que a resposta do Senhor é favorável. Se estivesse junto de ti quando tu examinares este assunto, quão ansioso ficaria para saber a tua decisão. Seria impossível dizer o quanto me consideraria feliz se pudesse estar presente para confirmar, para tua completa satisfação, aquilo que afirmei nesta carta! Mas como isso é impossível no momento, espero entregar esse assunto, bem como todos os outros acontecimentos, Àquele que governa todo o universo com soberania. A quem organiza todas as coisas da melhor maneira possível, para promover a sua própria glória e o eterno bem-estar de seu povo, e quem sem dúvida organizará também este acontecimento para a nossa felicidade mútua. Ele, cuja misericórdia e proteção eu não cesso de pedir, por meio de minhas orações e intercessões constantes em teu favor, as quais nunca são mais intensas e sinceras do que quando tens real interesse nelas.
Aguardarei, com ansiedade, uma carta tua. Espero que ela seja favorável. Sinta-te à vontade para comunicar as tuas ideias, sem reservas, pois podes ter a firme confiança de que, da minha parte, manterei sigilo, se preciso for, sobre qualquer coisa que tu te agrades em comunicar… [Até logo], minha amada amiga. Ore por mim e acredita que, com minha mais sincera e imutável afeição,
sou teu amigo mais sincero e teu mais humilde servo,
– Tomas Charles
Trecho retirado do Livro “Palavras de Amor” de Michael Haykin com Victoria Haykin, publicado pela Editora Fiel.
http://www.editorafiel.com.br/produto/4019082/Palavras-de-Amor